quinta-feira, 5 de maio de 2011

Abstinência


Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus" Lc 4.4


Quinze dias sem eles e aqui estou eu. Por pura teimosia e por saber que não faz mais tanta diferença ter alguns comprimidos em um organismo tão caótico. Eu devia estar bem e não prostrada e esquecida dentro de mim afinal sou eu depois de tanto tempo.
Reclamei tanto que os malditos antidepressivos destruiam minha criatividade mas agora estou entediada. Eu já tentei chorar de forma forçada pra esquecer a indiferença que tudo isso causou e no momento estou tão fria quanto um corpo morto ao chão. Xinguei todos os laboratórios por ter perdido parte da minha libido pra um comprimido pela manhã e agora nada de fato me excita. Na verdade era pra estar viva,ativa e com meu sexo a flor da pele. Sexo? Já tive mais remédios que parceiros sexuais ao longo dos anos: Primeiro a ritalina,depois a fluoxetina que foi e voltou várias vezes como um tórrido caso de amor. Também tive o rivotril que embalava as noites de sono como uma canção de Elliott Smith e não poderia deixar de citar Risperidona que me privava de devaneios. Sim, remédios como sexo. Alguns acompanham por aos,outros são rápidos e cansativos e ainda há as doses únicas que podem marcar por muito tempo.
Joelhos dobrados,pensamentos a mil,cigarro na mão e um olhar vago e pálido. Só falta um pão envolvido em bolor e lá estarei eu como a senhorita Miséria vendo o mundo novamente sem minhas lentes químicas e tudo é de fato apenas pontos brilhantes e enjoativos no horizonte. Carros passam, corpos andam, cartazes expõe uma realidade fingida. É tudo uma única massa assustadora e escura. Os malditos remédios não mudavam o que de fato existe na única realidade que sempre existiu pra mim mas tentavam tirar meu medo de vagarosamente tocar nessa imundície toda a qual pertencemos. Que se foda o médico! É melhor assim ficar escorada em uma parede, esquecida e apenas deixando o tempo passar,assim como a caixa de Fluoxetina bem ali na minha estante.


2 comentários:

  1. Éderson Ferreira Crispim6 de maio de 2011 às 20:30

    Bem amarrado, raciocínio fechado, não há dialética, não há espaço para sair da caixa, há uma profunda imersão e uma espécie de narrador deputado, conformado, e uma certa rebeldia cujo objeto é o mediador entre os medicamentos e a cura, mas não há doença configurada, há uma espécie de horizonte roubado, uma espécie de ciclo vicioso, rodeado pelo caos e o delírio urbano, onde a sequência orgânica é
    ... rejeitada.
    Parece um princípio de uma fatalidade.


    (texto produzido via msn em conversa com a autora)

    ResponderExcluir
  2. se um abraço ajudar, vc tem o meu! bjos!!!

    ResponderExcluir